isto vai, meus amigos, isto vai!

Marcha contra Wall Street reúne milhares em Nova York

Cerca de 10 mil pessoas participaram, quinta-feira, de um protesto nas imediações da Bolsa de Valores de Nova York, para exigir que os bancos e os empresários ricos paguem os custos da crise. Por David Brooks, La Jornada


Uma resposta de resistência e rebelião que, embora ainda não seja massiva, vem ganhando pouco a pouco dimensões surpreendentes.

“Fuck Wall Street”, gritava hoje um manifestante ao marchar pela área, enquanto a polícia impedia que milhares de professores, funcionários públicos, de manutenção e de vários sectores de serviços, imigrantes, estudantes e activistas comunitários se aproximassem do monumento do mundo financeiro: a Bolsa de Valores de Nova York.

Os manifestantes – mais de 10 mil segundo alguns cálculos – marcharam pelas ruas ao redor do sector financeiro e político desta cidade para exigir que os bancos e os empresários ricos paguem os custos da crise económica que eles mesmos detonaram, e não os trabalhadores que enfrentam uma onda de despedimentos e um ataque político contra os seus direitos laborais.

O presidente da Câmara de Nova York, Michael Bloomberg, quer despedir mais de 5 mil professores, fechar vários quartéis de bombeiros, reduzir serviços para crianças e programas para habitantes da terceira idade, entre outras medidas para equilibrar o orçamento. Por outro lado, nega-se terminantemente a aumentar os impostos para os ricos, sobretudo para o sector financeiro, com o argumento de que isso teria um efeito negativo na economia.

Mais emprego e mais serviços públicos

"Ouça, Bloomberg, o que diz disso? Quantos cortes ordenaste hoje?", gritava uma parte da marcha, enquanto outros caminhavam a partir de vários pontos para deixar quase cercada a famosa rua de Wall Street. Acompanhados por bandas de metais e tambores, gritavam palavras de ordem contra a avareza empresarial e carregavam cartazes com exigências de emprego, escolas, serviços públicos e que os ricos paguem pelo desastre que criaram. “Nós pagamos impostos. Por que vocês não pagam?” – gritavam ao passar na frente de luxuosos edifícios. Poucos antes de partir, um contingente de professores advertiu entre aplausos e gritos: “Esta é a última vez que nos comportamos bem; na próxima, tomaremos a cidade”.

Os governos em nível municipal, estadual e federal estão a aplicar a mesma receita de austeridade por todo o país, acompanhada de um ataque feroz contra os sindicatos e, em alguns casos, contra os imigrantes. A história é a mesma: para resolver o défice orçamentário provocado pela pior crise financeira e económica desde a Grande Depressão, a decisão política é repassar o custo para os trabalhadores.

Ao mesmo tempo, os executivos e as suas empresas desfrutam de uma prosperidade sem precedentes. O Wall Street Journal informou que a remuneração dos principais executivos das 350 maiores empresas do país aumentou 11% e, em valor médio, chega a 9,3 milhões de dólares, um prémio pelo seu grande trabalho em reduzir custos e elevar os rendimentos de suas empresas. Os líderes em rendimentos são Phillipe Dauman, da Viacom, com 84,3 milhões de dólares anuais, seguido por Lawrence Ellison, da Oracle, com 68,6 milhões de dólares, e Leslie Monnves, da CBS, com 53,9 milhões de dólares.

Essa receita económica é acompanhada de uma feroz ofensiva política contra os trabalhadores e seus sindicatos. Forças conservadoras, tanto no âmbito político como no empresarial, promovem medidas com o propósito explícito de destruir sindicatos, em particular os do sector público. Iniciativas neste sentido foram promovidas em estados como Wisconsin, Michigan, Indiana e Ohio, entre outros, onde além de propor reduções de salários e direitos dos trabalhadores, incluem-se medidas para anular os direitos de negociação de contratos colectivos.

Dois estados, New Hampshire e Missouri, promoveram projectos de lei para somar-se aos 22 estados que têm leis com o nome orwelliano de “direito a trabalhar”, que, na verdade, limitam severamente a sindicalização ao permitir que os trabalhadores optem por não se filiar a sindicatos estabelecidos no sector privado. No total, 18 estados impulsionaram esse tipo de iniciativa somente no último ano, todos com a justificativa de que são necessárias para diminuir o défice, e quase todas promovidas por legisladores ou governadores republicanos, relatou ainda o Wall Street Journal.

As leis têm o objectivo de debilitar o poder político dos sindicatos que costumam apoiar o Partido Democrata e iniciativas liberais no país.

Isso levou a uma rebelião que reuniu centenas de milhares de trabalhadores em Wisconsin no início do ano, ao qual se somaram estudantes, agricultores, imigrantes e organizações comunitárias que, durante várias semanas, tomaram o Capitólio do estado como parte de uma mobilização popular que gerou esperança neste país, e que muitos – incluindo os manifestantes – compararam com o que estava ocorrendo no Egipto.

“Protesta como um egípcio”, foi um dos lemas da mobilização

“Estamos com Wisconsin”, lia-se em cartazes e ouvia-se nas palavras de ordem nesta quinta-feira em Nova York. Do mesmo modo, surgiram expressões de resistência em Michigan, Ohio e Indiana contra medidas para enfraquecer os sindicatos.

Na Califórnia, os professores da California Teachers Association lançaram esta semana um movimento chamado Estado de Emergência para pressionar os legisladores a pôr fim aos cortes na educação. O sistema educacional sofreu cortes de 20 mil milhões de dólares em três anos e 30 mil professores foram despedidos neste Estado.

Esta semana uma funcionária federal que está por ser despedida enfrentou o presidente Barack Obama num fórum transmitido pela televisão e perguntou-lhe o que faria se estivesse no seu lugar. Obama respondeu que é um momento difícil e tentou dar explicações, mas não conseguiu responder à pergunta.

Noam Chomsky escreve que o que está a ocorrer nos Estados Unidos é parte de uma guerra entre Estado e corporações contra os sindicatos, que está a ser travada em nível mundial, deixando os trabalhadores numa condição de precariedade como resultado de programas de enfraquecimento dos sindicatos, flexibilização e desregulação.

Mas os manifestantes de Nova York, nesta quinta-feira, também falaram do surgimento de uma resposta de resistência e rebelião que, embora ainda não seja massiva, vem ganhando pouco a pouco dimensões surpreendentes. Tom Morelli, ex-integrante de Rage Against the Machine (banda hardrock dos EUA, uma das mais influentes e polémicas da década de 1990), afirmou que os sindicatos são um contraponto crucial contra a cobiça empresarial que afundou a economia e ameaça o meio ambiente e o futuro.

Depois de participar das mobilizações de trabalhadores na capital de Wisconsin, disse que, do Cairo a Madison, os trabalhadores estão a resistir e os tiranos estão a cair, e apresentou uma nova canção que, segundo ele, é uma banda sonora para a luta nos EUA. A letra afirma: este é uma cidade dos sindicatos/mantenham a linha; se vocês vierem retirar nossos direitos/vamos enchê-los de pancada.

Tradução de Katarina Peixoto para a Carta Maior

Comentários

Anónimo disse…
Reflexão: sindicatos de novo necessários como congregadores dos sem poder e agentes da reinvidicação. Mas cá será necessário: 1º) proceder-se a uma descomunização desses aparelhos, tirar-lhes a excessiva carga de satelização partidária que impede muitos de se aproximarem; 2º)rever a "forma" da acção e comunicação, muito retrógada, já não adequada aos nossos dias nem às maiorias e minorias, cada vez mais "não militantes partidárias". Ou seja, modernizar-lhes o exercício da luta sem esquecer o princípio de porta-vozes, intermediários e agentes. Digo eu que não sei nada..... SS

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