o povo que paga e reza

Quem tudo rege, ordena e manda é o dono da locanda

E assim se passa, defronte de um público enojado e indiferente, esta grande farsa que se chama a intriga constitucional. 

Os lustres estão acesos. Mas o espectador, o País nada tem de comum com o que se representa no palco; não se interessa pelos personagens e a todos acha impuros e nulos; não se interessa pelas cenas e a todas acha inúteis e imorais. 

Só às vezes, no meio do seu tédio, se lembra que, para poder ver, teve que pagar no bilheteiro! 

Pagou – já dissemos que é a única coisa que faz além de rezar. Paga e reza. Paga para ter ministros que não governam, deputados que não legislam, soldados que o não defendem, padres que rezam contra ele. Paga àqueles que o espoliam, e àqueles que são seus parasitas. Paga os que o assassinam, e paga os que o atraiçoam. Paga os seus reis e os seus carcereiros. Paga tudo, paga para tudo.

E, em recompensa, dão-lhe uma farsa.

Eça de Queiroz, “Uma Campanha Alegre”, 1871

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