onde se fala de al capone, al jardim e o crime organizado




Por Sérgio Lavos

Nos anos 20 e 30, o crime organizado tomou conta de Chicago e de outras cidades americanas, aproveitando, inicialmente, a lei seca, e depois o clima de instabilidade provocado pela Grande Depressão. Os grandes chefes da Máfia viveram durante anos a fio em impunidade, estabelecendo um reino de medo e corrupção onde a lei não conseguia chegar.

Setenta anos depois, estamos em Portugal. O país embarcou numa crise perpétua - económica, financeira, moral. As instituições que deveriam ser os pilares da democracia - a Assembleia e o Governo, a Justiça e a Presidência da República - foram corroídas até à medula por jogos de interesses, num corropio de políticos, ora lutando pelo melhor lugar numa empresa dependente do Estado, ora beneficiando novos e velhos amigos em negócios que envolvem decisões governamentais.
Autarcas condenados pela Justiça não acabam na prisão. Empresários corruptos e corrompidos contam com a cumplicidade de advogados e de um sistema judicial lento e apodrecido para ir adiando ad nauseam julgamentos e execuções de sentenças. O povo esse, está sereno. Está sereno porque tem medo de perder tudo o que comprou com os créditos concedidos durante os bonançosos anos 90. Um medo que não nasce da violência bruta, como acontecia na América das décadas 20 e 30, mas de uma vontade de manter um nível de vida que se vê ameaçado. O Governo ajuda, veiculando através da polícia ameças menos do que vagas aos prováveis contestários deste estado de coisas. Os media vivem estrangulados pelo poder económico que os detém; a liberdade de imprensa foi substituída por um simulacro. Vivemos num mundo em que os jornais e as televisões parecem dizer toda a verdade, quando apenas são correntes de transmissão de poderes mais altos do que eles. Os poucos jornalistas independentes definham nas redacções, incapazes de contornar aquilo que lhes é mais imediato: a necessidade de manterem os seus empregos.

Um cenário de catástrofe? Não, a profecia Maia diz que apenas para o ano a brincadeira acaba, e não há razões para achar o contrário. Mas quando chegamos ao ponto de criminosos condenados pedirem o afastamento de um juiz inconveniente ao processo em que estão envolvidos, chegámos a Chicago. Quando loucos quase diagnosticados continuam a estrebuchar contra tudo e todos e ninguém os cala, chegámos aos tempos da lei seca. Relembre-se: Al Capone acabou por ser apanhado e condenado por fuga ao fisco. Não é um acaso: qualquer Estado chega mais depressa ao dinheiro dos impostos do que a tudo o resto. Contudo, nem isso podemos esperar de Portugal. A decadência deste povo peninsular não é um estado de espírito.

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