o estado são eles

Quinta do Lago, Algarve

Os Gambrinus e os Portos de Santa Maria continuam a encher. Os carros topo de gama continuam a vender-se. As mansões na Quinta do Lago e na Quinta da Marinha continuam a ostentar a sua riqueza de país de terceiro mundo. As viagens fazem-se em executiva até Milão, Paris, Londres e Nova Iorque, às compras e para um banho de cultura pelos musicais e prostíbulos de luxo da Broadway e do West End, que o MoMA ou a National Gallery são para as hordas de turistas de pé descalço. O fisco é-lhes favorável. O Estado protege-os, como sempre protegeu os Champalimaud, os Mello, os Espírito Santo. E, em frente da sua lagosta thermidor, do seu linguado au meunier, do caviar e das trufas, nada os ataranta, a fome que grassa por aí é um acidente de percurso, o efeito colateral de uma guerra pelo poder e posse que, tal como os reis de outrora, vêem como um direito divino. E, entre um arroto discreto e uma passa no charuto cubano ou um escorropicho no uísque velho, discutem política, elogiam a acção do governo, conspiram para exigir mais regalias e benesses para si. São direitos adquiridos, de linhagem. Planeiam oportunidades de negócios, papagueiam números, sussurram fugas de capital para paraísos fiscais. Combinam despedimentos colectivos por causa da crise e, por causa da crise, exigem salários mais baixos e indemnizações que são insultos a quem os ajudou a enriquecer, uma massa anónima que pouco mais é, para eles, do que animais, bestas de carga, seres infra-humanos, descartáveis e desprezíveis. Têm a seu favor o Governo, os espantalhos da Concertação Social, as instâncias internacionais europeias, os mercados, os especuladores, o absolutismo capitalista que enche os bolsos e, os nossos dias, de angústia, de sofrimento, de privações e terror do futuro.

Os amanhãs que cantam ainda são deles. Ainda. E. por mais uns tempos, continuarão a atirar-nos à cara que andámos a viver acima das nossas possibilidades. Que fomos perdulários, que comemos na tasca da esquina uma vez por mês, que comprámos um carro de merda e um andar na Brandoa com lareira e parabólica, que temos conseguido ir de férias, uma semana por ano, para um T0 alugado na Quarteira ou em Armação de Pêra. Não soubemos poupar. Fomos no conto do vigário e no canto dos bancos que eles dirigem. Agora, aguentemos e esfomeemo-nos. A culpa é nossa.

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