um par de sapatos e o funeral


A União Europeia faz-me lembrar uma anedota que ouvi há uns anos. Não me lembro dos pormenores da dita, mas reza mais ou menos assim: um dia, um pobre foi pedir a um amigo uns sapatos emprestados para ir a um funeral. O amigo, em pleno cortejo fúnebre, não cessava de lhe gritar: "Olha os sapatos", "Cuidado com essa poça", "olha essa pedra, que me estragas os sapatos".

A anedota pode não ter muita graça, que não tem, mas a União Europeia tem-na menos. E sim, existe uma certa analogia. É que a matrafona nos emprestou os sapatos, é verdade, mas, além de nos obrigar a pagar depois o sapateiro, gastando nisso tanto como o que nos custariam uns sapatos novinhos em folha, ainda se atreve, ao longo da via sacra que nos obriga a percorrer, a admoestar-nos: "Cuidado que os portugueses ganham demais" e "Parem de pagar subsídios aos desempregados durante tanto tempo" são dois dos últimos avisos aos pobres descalços, nós, que eles queriam defuntos, mortos na dignidade e no espírito combativo.

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