aleluia, aleluia, há benefícios fiscais!


É a parangona de todos, ou quase todos os jornais de hoje. O governo vai conceder benefícios fiscais a quem apresentar despesas de restaurante, cabeleireiro e não sei quê mais. Não sei quê mais porque a notícia não me interessou, quero que o ministério das finanças, na pessoa do titular, meta os benefícios num sítio que eu cá sei mas não digo, que sou pessoa bem educada e não foi em colégios suíços. Ou seja, para beneficiar de um desconto de 250 euros no IRS, seria preciso apresentar facturas na ordem dos 27.000 euros por ano, qualquer coisa como 2.300 euros por mês em gastos de comes, bebes, colorações, brushings, madeixas e outros serviços mais ou menos vitais para a sobrevivência dos portugueses.

Como se sabe que andam por aí a pagar à volta de 500 euros a profissionais especializados, e qualquer dia metade disso a outros profissionais menos qualificados, está-se mesmo a ver que os portugueses, na sua grande maioria, sempre à cata da promoçãozita, do descontozito, da atençãozinha, vão passar a pedir facturas em tudo quanto é sítio para juntarem à declaração do IRS e, assim, pouparem 250 euros, uma fortuna, um mês de salário para alguns, muitos já.

Se Gaspar quer evitar a fuga ao fisco, aprenda com outros países como se faz, e não será assim com certeza. Seja duro, implacável para os muito ricos que não pagam impostos. Serei o primeiro a aplaudir. Isto é que não é nada. É apenas uma tentativa de ludibriar papalvos. E no dia em que a repressão aos maiores evasores fiscais for uma realidade, no dia em que a contribuição fiscal for equitativa e no dia em que verificarmos que os nossos impostos são bem aplicados, no ensino, na saúde, no bem-estar social e no progresso do País, pode ter a certeza, amigo Gaspar, que os portugueses, os que são esmifrados até ao tutano, esganados em impostos, os pagarão com orgulho. Saberão, nessa altura, que cada cêntimo será aplicado como deve ser. Até lá, eu vou-me estar nas tintas para as suas benesses fiscais e não vou exigir facturas aos pequenos comerciantes que não mas quiserem passar de livre e espontânea vontade. Mande-me prender. Vou comer e dormir à conta do Estado e dos impostos. Que mais poderia desejar?

Entretanto, alguns dos mais ricos do País,  a quem 250 euros de descontos nos impostos dão muito jeito pois essa gente quanto mais tem mais quer, é a avidez que lhes comanda a vida, vão começar a pedir facturas por tudo e por nada. Ou seja, nesta história toda será o pequeno biscateiro, o pequeno comerciante a pagar mais impostos, muitos mais, para que o rico, o muito rico, tenha uma benesse de 250 euros. A coisa não é tão parva assim. E é maquiavélica. É um ataque aos pequenos que fogem ao fisco mas, por outro lado, não se vê nenhuma medida, uma que seja, para evitar essa mesma fuga aos que ganham milhões, não uns poucos milhares muito suados, muito sofridos.

Qualquer dia, esses muito ricos não precisam de fugir com o dinheiro para paraísos fiscais. Gaspar está a oferecer-lhes um paraíso de mão beijada: Portugal.

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