cale-se, senhor primeiro-ministro

Por Nuno Ramos de Almeida

O governo violou as promessas eleitorais. Passos Coelho e os seus pares assumiram compromissos internacionais que hipotecam a nossa vida e a dos nossos filhos e netos, sem nos consultarem. Este plano é injusto e nunca foi discutido democraticamente. São os trabalhadores e reformados a pagar a parte de leão. Tanto esforço para nada. O Memorando da troika falhou. Não resolve nenhum dos nossos problemas. Devemos hoje mais que antes da entrada do FMI. O défice do Estado não pára de crescer. E isso tudo apesar de o governo estar a liquidar os serviços públicos. Nunca houve tantos desempregados em Portugal. As empresas continuam a falir, a economia está a ser destruída todos os dias.

Se o plano da troika não funciona, o governo tinha de exigir um plano justo e eficiente. Mas nada disso. Passos Coelho e Vítor Gaspar são mais troikistas que a troika. No dia seguinte ao BCE ter criado medidas para impedir a subida de juros das dívidas soberanas, o governo, em vez de aproveitar a folga para renegociar o programa e as condições do resgate, resolveu fazer mais e muito pior.

Em Julho de 2011, o executivo recusou baixar a taxa social única das empresas para a segurança social depois de fazer um estudo em que concluía que isso só era possível aumentando o IVA, para impedir a sua descapitalização, e que era muito duvidoso que esta medida gerasse empregos. Um ano depois, o governo colocou o estudo na gaveta. Pela primeira vez na história, os trabalhadores vão pagar mais segurança social que os patrões. Com a agravante de que têm menos direitos e menos subsídios: não vão receber o que descontaram. O gabinete de Passos Coelho propõe-se roubar mais de um salário por ano aos trabalhadores do privado e dois subsídios anuais aos funcionários públicos e aos reformados. Repare-se que, aos reformados, não se trata de retirar subsídios, mas de roubar literalmente dinheiro que eles descontaram ao longo de uma vida de trabalho. É tirar a muitos para dar a muito poucos: esta medida apenas recompensa algumas grandes empresas e vai levar à falência a maioria das pequenas e médias empresas. Para além de diminuir ainda mais o rendimento dos portugueses, vai aumentar exponencialmente o desemprego. Chegou o tempo de dizer basta.

Todos temos os governos que merecemos. É o nosso silêncio que permite esta política. O primeiro-ministro apresenta-nos nos fóruns internacionais como gente mansa que aceita com um sorriso nos lábios toda a austeridade a que nos obrigam. Transformámo-nos nas cobaias das políticas neoliberais. Garantem-nos que não há alternativa. É o momento de remediarmos o erro e dizermos: tudo é alternativa a esta política ditada pela troika, porque este rumo apenas conduz ao desastre. Como escrevia um dramaturgo e poeta alemão de que Merkel não deve gostar:

“Depois de falarem os dominantes/ Falarão os dominados/Quem, pois, ousa dizer: nunca/De quem depende que a opressão prossiga? De nós/ De quem depende que ela acabe? Também de nós/ O que é esmagado que se levante!/O que está perdido, lute!”

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