economia sem coração

Por Viriato Soromenho-Marques

Há pessoas assim. O mundo pode perecer, desde que o seu ego gigantesco não sofra qualquer dano. Fortunato Frederico, um dos mais notáveis empresários apoucados por António Borges (AB), guru económico do primeiro-ministro (PM), comentou que a baixa da TSU "era uma medida sem pés nem cabeça, sem coração". Para AB, isso não passa de "ignorância", merecendo reprovação no exame da cadeira que ensina numa universidade. AB ficou com uma ferida narcísica, pois foi ele quem ditou ao PM o repulsivo discurso de 7 de setembro. Mas o mais importante é perceber que economia ensina AB nas suas aulas. Recentemente, Luigi Zingales, professor na Universidade de Chicago, onde se celebrizou um dos profetas do ultraliberalismo económico, Milton Friedman, assinalava a miséria ética de grande parte dos cursos de Economia e Gestão. O título do seu artigo fala por si: "Será que as Escolas de Negócios são incubadoras de Criminosos?" Na verdade, nos últimos 30 anos, muitos círculos académicos têm-se concentrado na primeira parte do lema de Friedman - "a primeira e única responsabilidade da empresa é aumentar os seus lucros" -, esquecendo-se do resto da frase - "na medida em que se respeitem as regras do jogo, de uma competição aberta, livre, sem engano nem fraude". A economia foi fundada em 1776 por Adam Smith, um dos mais importantes escritores morais de sempre. Nessa altura, chamava-se "política". A economia não fazia abstração das pessoas, nem das suas relações e valores. Hoje, o que falta em pensamento amplo sobra no malabarismo dos modelos, manejados por aprendizes de feiticeiro. Analfabetos éticos que têm semeado, com impunidade, a ruína pelo mundo. Do subprime ao escândalo da Libor. Ensinando uma opinião arrogante, disfarçada de ciência. Uma economia sem "coração", nem economia chega a ser. Já "chumbou" no exame da Vida.

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