globalizar a miséria

Por Fernando Dacosta

Contam-nos: nos últimos séculos, a Europa desenvolveu-se graças a uma industrialização assente em matérias-primas (fartas, baratas) tiradas das suas colónias, e em mercados de crescente expansão. Após a Segunda Guerra, os povos do terceiro mundo começaram a emancipar-se e a transaccionar, rendibilizando-as, as referidas matérias-primas; os emergentes conseguiram aliciar, devido a mão-de-obra barata, as grandes indústrias para os seus territórios, o que provocou desemprego insustido no velho continente e, em cascata, quedas devastadoras no seu poder de compra. Os interesses dominantes desviaram-se então para a banca e para a especulação financeira (bolsista sobretudo), com secundarização dos demais sectores. Amputada na capacidade consumista, a classe média entrou de perder interesse económico e estatuto social. A automatização, entretanto acelerada, esvaziou o proletariado e o valor do trabalho. Implodido o bloco do Leste, o capitalismo viu-se livre (impune) para passar à fase seguinte (a actual): a eliminação dos excedentarizados – numa guerra não militar mas económica – através da retirada de direitos adquiridos, da diminuição de vencimentos, reformas, da saúde, educação, lazeres, cultura, do fomento da insegurança, do desemprego, do esbulho, da miséria. Tal não sucede por desnorte dos responsáveis, mas por desígnio seu – a globalização não passa de uma forma sofisticada de neo-imperialismo: globaliza-se a miséria, não a riqueza, com o apoio de políticos, intelectuais, sociólogos, economistas, comentadores de serviço e de desvergonha. Que ventos estão a semear?

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