os políticos não roubam

Por Tiago Mesquita

Os políticos não roubam, retiram. Os políticos não expoliam, cortam. Os políticos não delapidam, privatizam. Os políticos não oprimem, limitam. Os políticos não mentem, faltam à verdade. Os políticos não vão presos, são detidos para breves interrogatórios. Os políticos não enganam os cidadãos, os programas eleitorais é que são estáticos.

Os políticos não erram, cometem lapsos. Os políticos não ofendem, têm momentos infelizes. Os políticos não se enganam, têm confusões momentâneas. Os políticos não dizem disparates, cometem deslizes. Os políticos não alteram a realidade, cometem imprecisões. Os políticos não são incompetentes, estão impreparados para o cargo. Os políticos não falham, apenas não respondem ao desafio como esperado. Os políticos não são incapazes, são mal aconselhados.

Os políticos não são responsáveis pelos seus atos, estão legitimados pelo voto popular. Os políticos não são julgados por políticas desastrosas, apenas nas urnas se decidirem ir a eleições. Os políticos não são pulhas, são seres humanos como os outros, com traços negativos (mesmo que sejam uns pulhas de primeira). Os políticos não são demagogos, eu é que sou por estar a escrever isto, e outros que escrevem coisas deste género.

Agora pergunto: com tamanha complacência e facilitismo, com o uso permanente de eufemismos para caracterizar a atuação dos políticos, se estas premissas são quase verdades absolutas com que estamos sempre a levar, como é que não haveria de existir tanto infeliz, mentiroso e incompetente (e muitas vezes tudo isto ao mesmo tempo) embrenhado na política até às orelhas, desde tenra idade? É assim, com este nível de responsabilização, que queremos ter os melhores na política? Ou não será precisamente por isto que andamos há uns anos a levar com o refugo em cargos que deveriam ser exclusivamente ocupados por gente capacitada?

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