depois do 2 de março

Por Nuno Ramos de Almeida
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Em 15 de Fevereiro de 2003, mais de 18 milhões de pessoas saíram à rua em todo o planeta contra uma guerra anunciada. No dia seguinte o insuspeito “New York Times” escreveu que tinha nascido uma nova superpotência. Não falava de um país, mas das pessoas que com vontade e determinação ocuparam as ruas do planeta.

No dia 2 de Março de 2013 as ruas de Portugal foram pequenas para as muitas centenas de milhares de pessoas que expressaram a sua vontade de ser actores da sua própria história. Nada será igual.

Como anteriormente, surgiram comentadores solícitos a tentar desvalorizar o país que saiu à rua. Garantem-nos que tudo continua igual. Temos Cavaco Silva em Belém, Passos Coelho em São Bento e a troika, que vela por nós no céu. Afiançam-nos que mesmo que o país seja arrasado por uma catástrofe natural existirá sempre o Memorando para nos guiar para o além dos de- sempregados.

Os comentadores podem continuar a ladrar mas não conseguem esconder que o povo não está com este governo. Temos um executivo que é ilegítimo porque há muito que está a cumprir um programa que não foi discutido e aprovado pelos eleitores. Em que momento nos consultaram para dizer que tínhamos deixado de ser um país independente? Em que altura nos disseram que haveria todo o dinheiro para apoiar os grandes accionistas dos bancos, mas nenhum para apoiar as empresas e quem trabalha? Em que linhas do programa da maioria vinham o aumento dos impostos, o roubo das reformas, a multiplicação do número de desempregados e o empobrecimento geral do país?

Há muito que a maioria governamental exorbitou do mandado eleitoral.

Tirando Vítor Gaspar, toda a gente percebe que este programa da troika não funciona. Nenhum país pode honrar os seus compromissos se não produzir. A troika e o governo só sabem produzir desempregados.

O principal compromisso de um governo deve ser com o seu povo e não com os agiotas que especularam com a sua dívida, nem com os banqueiros que lucraram com esta desgraça.

Há três coisas que são claras: este governo não tem apoio popular, o programa da troika só nos leva ao desastre e para mudar de política é preciso devolver a voz ao povo.

As pessoas que saíram à rua em 15 de Setembro e em 2 de Março demonstraram que não são carneiros, mas sujeitos do seu próprio destino. A democracia é o sistema que permite que se expresse a vontade popular. Chegou a hora de o Presidente da República esquecer que é militante do PSD e antigo accionista da SLN e honrar o juramento de cumprir e fazer cumprir a Constituição. Perante um conjunto de medidas de austeridade injustas e que apenas aumentam a miséria de muitos e o lucro de muito poucos, Cavaco Silva deve demitir o governo e convocar novas eleições.

Qualquer alternativa que surja tem de contar com as pessoas. Elas estão fartas de um sistema corrupto em que a justiça funciona para tirar as casas e os empregos aos humildes, mas não consegue acabar com a corrupção dos poderosos. Elas querem uma democracia verdadeira.

Dar a voz ao povo não garante que os nossos problemas se resolvam por magia, mas não há forma de os resolver sem que todos tenhamos uma palavra a dizer. Precisamos de mais democracia e participação para resolver a crise.

Não há governo que se aguente contra a vontade de um povo. A sua queda pode ser adiada, mas nunca será impedida.

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