entretenimento político

Cirque du Soleil - Ross Land/Getty Images
Por Viriato Soromenho-Marques

Rui Machete não é apenas um erro de casting, mas antes um sintoma caricatural da situação de desnorte em que se encontra a governação nacional. Ele representa o modo acelerado como, em menos de 40 anos, a III República se deixou arremessar para dentro de um torvelinho entrópico. O escândalo não reside apenas na figura de Machete, o escândalo está no facto de ter sido convidado, e na sua persistência num cargo de tão elevada responsabilidade. Numa altura em que o país precisava de dirigentes que espelhassem o melhor que a nação tem no seu escol de saber, de competência técnica, de probidade moral, quem manda só consegue tirar trunfos de um baralho há muito viciado. Em Nova Deli, Machete falou não como MNE de um país que habita numa encruzilhada existencial, mas como candidato a comentador político. É verdade que as televisões estão povoadas por políticos na reserva que inventaram um novo tipo de espectáculo: o entretenimento político. Ali se misturam todos os géneros: ficção, terapia de grupo, associação livre, auto-elogio, e outras artes de ilusionismo. Um dos mais hilariantes "comentadores" é citado não pelo poder analítico e prospectivo das suas conjecturas, mas por ter acesso com antecedência à agenda do Conselho de Ministros...Em situações de normalidade, tudo isto até seria risível. Mas para onde Portugal se dirige iremos precisar de gente que tenha algo mais do que uma boa lista de contactos telefónicos. Gente que não se limite a traficar influências, e a saltitar por dezenas de conselhos de administração. Nem comentadores de pacotilha, nem políticos venais. Portugal terá de inventar estadistas, se não quiser perecer.

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