quem foi o perigoso esquerdista que escreveu isto?

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"Ao contrário do que diz a propaganda do Governo, Portugal está paralisado, sem rumo, sem ética e é cada vez mais um protetorado da troika. Está a destruir tudo o que resta do património português e a caminhar para uma espécie de nova ditadura. Ao contrário de Espanha e de Itália, que nunca permitiram que entrassem troikas nos seus países. Honra lhes seja feita.

Agora recebeu um novo golpe com a nova situação da Irlanda - que entrou em crise antes de nós - e que soube ter um Governo competente para sair dela. Porquê? Porque não foi subserviente e a política foi sempre - ou quase - dominante sobre os mercados usurários, mantendo o respeito pelos seus compatriotas e não os ignorando. Ao contrário do nosso Governo.

Portugal continua a pagar os juros sem discussão e a não ouvir as pessoas nem os partidos da oposição e os sindicatos e a manter a todo o custo a austeridade. Ora, todos os europeus sabem que tal imposição leva sempre as populações à pobreza, mais do que isso: à miséria, ao desemprego, ao suicídio, à criminalidade e à emigração. É por isso que muitos portugueses se recusam a pagar muitos dos serviços públicos e privados. É uma forma de subsistirem.

Quando digo que este Governo está moribundo, que só existe ainda dada a proteção anticonstitucional do Presidente Cavaco Silva, entenda-se que não o faço para o tentar humilhar ou por razões ideológicas ou político-sociais. É tão-só para evitar, enquanto é tempo, a violência que aí vem.

Todas as classes sociais, com exceção talvez da Igreja Católica (menos alguns párocos e até bispos, mais corajosos), estão ativamente contra o Governo e contra o Presidente da República, que não respeita a Constituição que jurou cumprir, é o protetor do seu partido e agora também do aliado deste: o CDS-PP.

Juízes, procuradores do Ministério Público, académicos, universitários, médicos, advogados, professores, enfermeiros, empresários, comerciantes e até alguns banqueiros (falidos ou em risco de vir a falir), sindicalistas, militares de todas as patentes, trabalhadores reformados ou no ativo, alguns párocos, polícias e guardas republicanos, todos falam e se manifestam contra o Governo e contra o Presidente da República que o protege. Se o Presidente fosse politicamente neutro, como manda a Constituição vigente, este Governo, totalmente impopular, estava há muito demitido. Os ministros e o Presidente não podem sair à rua porque têm medo de ser vaiados ou mesmo agredidos.

É, pois, para evitar a violência que falo alto e bom som e digo a verdade aos portugueses. Porque o desespero é cada vez maior e estou convencido - com boas razões - de que poderá vir a passar à violência, que pode ser fatal. O desespero e o ódio são maus conselheiros.

É isso que procuro evitar: que pode ter formas muito cruéis. Os portugueses são geralmente pacíficos, mas temos muitos exemplos na história em que, quando as marcas se passam, reagem a sério. Demitam-se, pois, enquanto é tempo: Presidente e Governo. Antes que lhes aconteça o pior.

Repare-se que não é por acaso que a imprensa tem estado a falar nos múltiplos candidatos futuros a Presidente, com tanta antecedência. É significativo! Nunca aconteceu com nenhum outro Presidente. Reflita, senhor Presidente. Não se convença de que os seus pedidos para que o Partido Socialista possa fazer acordos de última hora com um Governo que o humilhou durante dois anos tenham qualquer possibilidade de ser aceites. Faça o que deve: demita-se, enquanto pode ir para casa sossegado. Só lhe faltam dois anos. Não arrisque deixar desencadear a violência. É o pior que nos pode acontecer."


Quem escreveu isto? Alguém do Bloco de Esquerda? Do MRPP? Do PCP? Um perigoso apaniguado do nefando comunismo internacional, o tal cujos membros se saciam com membritos de crianças ao piqueno - sim, piqueno - almoço? Não, quem escreveu isto, hoje no DN, com o garbo e o arrojo que só a juventude pode ter, foi o Dr. Mário Soares.

Nunca fui admirador de Soares. Nem pouco, nem muito. Mas ficará na minha memória como um dos que, nestes negros tempos que nos calharam em sorte, mais combateu os monstros devoradores de vidas, de sonhos e de dignidade humana. Fico-lhe a dever, quanto mais não seja, esta.

Há quem lhes chame diatribes, devaneios de gagá e outros epítetos igualmente ignominiosos, à falta de melhores argumentos. Para mim, por mim e por todos os portugueses, concordo com cada palavra, até com cada vírgula.

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