tristes dias em fevereiro

Por Baptista-Bastos
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O dr. Luís Montenegro, chefe da bancada parlamentar do PSD, expediu a seguinte frase: "A vida das pessoas não está melhor, mas não tenho dúvidas de que o País está melhor." É uma charada, mas o dr. Montenegro é useiro e vezeiro em adivinhas deste tipo. Não se conhece, deste distinto, uma frase acertada, uma proposição equilibrada, uma afirmação justa. O dr. Montenegro não é patronímico: é um espinoteante tolejo. Como dirigente parlamentar, fornece uma ideia pavorosa do partido que representa e do que o próprio partido representa. Um amigo meu, dizia-me, há semanas, que este PSD e, decorrentemente, o Governo, é um conglomerado de neuroses, cada vez mais acentuadas com o aproximar das eleições. Não sei se assim será, embora o meu amigo tenha a reputação de psiquiatra distinto. Mas a verdade é que as coisas, para aqueles lados, não são propriamente recomendáveis.

Os desacertos multiplicam-se e, se Portugal vivesse um período político normal, com uma oposição capaz e um opositor, António José Seguro, à altura das circunstâncias, o Governo abanaria há já muito tempo. O PCP sozinho, mais o Bloco de Esquerda, não chegam lá, nem sei mesmo se estariam dispostos a chegar. O caos instalado na vida portuguesa é por de mais nebuloso, e as velhas fórmulas creiam que não chegam para se decifrar a confusão.

A frase do dr. Montenegro explica o homem e define esta época. A mediocridade, a que Cornelius Castoriadis designou de "a ascensão da insignificância", marca a Europa há anos. Basta atentar no pobre Durão Barroso e nas tristes figuras que tem desempenhado, como mordomo dos poderosos, para obtermos a imagem aproximada do grau de indigência mental, moral e intelectual que viceja no continente. Há anos, durante uma amena conversa com um conhecido intelectual, manifestei umas reservas sobre Barroso e os seus interesses. O meu interlocutor, muito ufano, declarou: "Estás enganado. Ele até lê a Maria Gabriela Llansol", como se a revelação fosse escudo para a ignorância e pleito para a cultura do nomeado.

É o universo do faz-de-conta, a fraude e a dissimulação como objectos de culto. Reparemos no que ocorreu no congresso do PSD, na falta de nível dos preopinantes, no episódio de revista protagonizado pelo Marcelo, penoso porque ele é um homem lido e culto, e na ressurreição do "dr." Miguel Relvas promovida, com atabales e cornetins, pelo dr. Passos Coelho, para aquilatarmos da categoria dos distintos, e a quem estamos entregues.

No PS, a insignificância alastra. A nomeação de Francisco Assis para chefe da delegação ao Parlamento Europeu é uma cedência à ala direita do partido. Assis é um político desenvolto, expedito, anticomunista como convém, e pouco dado ao embate ideológico, hoje mais necessário do que nunca. Creio não ser o nome mais apropriado, numa altura em que a extrema direita e a direita mais impante dominam a maioria dos países europeus. Socialistas realmente "socialistas" poderiam constituir um travão a uma avançada que se prevê trágica. Mas Francisco Assis?...

As coisas não parecem muito animadoras para aqueles, milhões de homens e de mulheres, que anseiam por uma mudança substancial nas suas vidas. Aqui, quando um dirigente político como o dr. Montenegro diz o que diz, e é só apenas gozado - tudo parece turvo e triste. Aguardemos.

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