os charters chineses vão ser realidade


Sempre que Coelho sai da toca para uma das suas incursões, excursões, inaugurações, para tudo menos para o exercício das suas funções que são as de governar, é assediado por uma miríade de repórteres, operadores de câmara, fotógrafos e alguns, poucos, mirones babados ante a visão da agora já encanecida excelência. Cheira a campanha eleitoral, e olhem que o pivete não é dos melhores. Não há dia nenhum em que Coelho não dê uma conferência de imprensa em pleno olho da rua, à saída de uma qualquer instituição, fundação, lupanar de empresários. Perora sobre tudo, não há coisa que não saiba e sobre a qual não tenha opinião e não bote faladura. Pelo que deixa entender e subentender, não há horizonte luminoso, céu resplandecente, sol refulgente que não venham aí, qualquer dia, quem diria?, brilhar sobre o nossa terra de nabos e nababos, paraíso de falcatruas e desfalques, pátria de pulhas e trafulhas, reino de aquém e além dor. Sei o que vem por aí: o colapso da alta finança internacional nunca existiu, a crise deve-se a Sócrates; os grandes empresários, argutos políticos e não menos astutas prostitutas de bolsas e mercados, de dinheiro e carne fácil, não viveram acima das suas possibilidades, fomos nós; a saúde é insustentável, a educação é incomportável, a segurança social é insuportável, mas nunca os bancos e muito menos os banqueiros, tanto precisamos de os ajudar a singrar na vidinha de lucros obscenos e prebendas das arábias; a austeridade foi para nosso bem, perdulários que fomos, madraços que somos. Mas tudo agora são rosas, são rosas senhores!, os espinhos desapareceram por encanto, por artes mágicas, por birra da Natureza. Não acreditem no que outros vos dizem, o caminho certo é o do apertão nos calos, piparote no cu, aperto de cinto, perto da indigência. Bem aventurados e bem-vindos sejam os pobretes, os alegretes, os desempregados, os suicídas, os desalentados. Os salários estão baixos, agora é que os investidores vão aproveitar. Vêm aí magotes de empreendedores, em charters da China, dos Estados Unidos, da Rússia, de Angola, dos Emiratos, da Colômbia, da Guiné Equatorial, de democracias ou ditaduras tanto faz, não faz mal. Há por aí alguma reserva onde se possa construir um campo de trabalho com mão-de-obra barata e sem direitos? Portugal está melhor do que o resto da Europa, estamos a crescer, somos competitivos, vamos ficar ricos de mentiras, prenhes de logros. No olho da rua se diz tudo isto. Assediado por uma catrefa de cérebros esvaziados à força de precariedade. Assim se faz, se vende um país. O meu.

Comentários

Luís Isidoro disse…
Eu diria que é um retrato do meu País (parafraseando o Autor) pintado à Pablo Picasso! Muito simbólico, mas real, infelizmente...

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